Entrevista com William Barbosa Gomes (UFRGS)

É com prazer que a equipe editorial do Blog da RIPeHP apresenta entrevista com William Barbosa Gomes, professor do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e coordenador do Grupo de Trabalho (GT) em História da Psicologia da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Psicologia  (ANPEPP). A ANPEPP realizará o seu XIV Simpósio entre 6 e 9 de junho deste ano, na cidade de Belo Horizonte, Brasil. Na ocasião o GT de História da psicologia se reunirá sob a coordenação do nosso entrevistado William.

Boa leitura!

Professor William, o grupo de trabalho em História da Psicologia da ANPEPP teve sua origem em 1996 no VI Simpósio da ANPEPP. O Senhor poderia relatar as motivações existentes naquele momento para a formação do grupo?

O interesse e estudo sobre a história da psicologia no Brasil nos acompanha desde os meados do século XX, como mostram os escritos de Plínio Olinto em 1934, Anita Cabral em 1950, Lourenço Filho em 1955, Pfromm Netto em 1979, Rogério Centofanti de 1982, mais os estudos de Isaias Pessotti e de Antonio Gomes Penna. Então já havia se firmado entre nós uma tradição de estudos em História da Psicologia. Acredito que a concretização de um Grupo de Trabalho no tema deve-se a essa tradição e à nova configuração que a pós-graduação assumia no Brasil. Um dos frutos foi a criação da ANPEPP no início dos anos 1980, cujo I Simpósio foi em 1988, na cidade pernambucana de Caruaru. Tive o privilégio de participar deste memorável evento sob a liderança de Analucia Dias Schliemman e Aroldo Rodrigues. Acredito que a organização do GT consolidou esse movimento em História da Psicologia. Em torno desta consolidação eu destacaria o trabalho que Maria do Carmo Guedes vinha realizando na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), um exemplo foi a organização da “História da Psicologia” em 1986 publicado pela EDUC. No ano seguinte, Regina Helena de Freitas Campos, da Universidade Federal de MInas Gerais (UFMG) aparece com trabalho nos Anais do Seminário Nacional de História da Psicologia realizado no Rio de Janeiro. No final da década, 1989, Marina Massimi, sob orientação de Isaias Pessotti, nos brinda com a tese “O ensino da Psicologia em instituições escolares brasileiras no século XIX” defendida na Universidade de São Paulo (USP). A primeira reunião do GT no VI Simpósio da ANPEPP em Teresópolis, em 1996, contou com a participação entusiasmada e musical do professor e historiador Josef Brožek (1913-2002). Brožek com seu violão, anedotas e muita historiografia nos empolgou bastante. Eu na época participava de outro GT, embora já lecionasse e escrevesse sobre história da psicologia. Assim não resisti à energia e vitalidade daquele grupo e acabei colaborando com a  primeira publicação do GT, organizada pela Regina com contribuições de Brožek, Marina, Maria do Carmo, Mitsuko Antunes, nossa querida “Mimi” (PUCSP), Raul Albino Pacheco Filho (PUCSP), e Erlaine Laponez Guerra (UFMG). No VII Simpósio em Gramado RS passamos a contar com a colaboração perspicaz de Ana Maria Jacó-Vilela, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e no VIII Simpósio em Serra Negra com a presença simpática da baiana Nádia M. Rocha Dourado (Fundação Rui Barbosa). No meu juízo, o núcleo duro do GT foi constituído por esses colegas: Maria do Carmo, Regina, Marina, Mimi, Ana-Jacó, Nádia e esse humilde entrevistado.

Quais os principais objetivos do grupo de trabalho em história da psicologia?

Os objetivos do GT foram congregar pesquisadores em história da psicologia, servir de apoio para a formação de novos pesquisadores e contribuir para a implantação e melhoria do ensino desta disciplina nos cursos de graduação. Embora de história recente, a ANPEPP ainda na sua estrutura geral representa o grande período pré-internet. Os encontros face a face eram importantes para nos conhecermos, discutir nossos trabalhos, definirmos necessidades por literatura específica e encaminhar essas publicações por meio da colaboração entre colegas. Daí a necessidade dos grupos, cuja concepção deve-se a esse entrevistado e ao Claudio Hutz (UFRGS).

O senhor poderia mencionar e comentar as produções mais importantes do grupo, bem como os projetos que se encontram em andamento?

Associado ao GT há hoje extensa literatura das quais eu destacarei apenas duas por representar o trabalho coletivo do grupo e também colegas pesquisadores de várias instituições brasileiras. São elas o “Dicionário Biográfico de Psicologia no Brasil” de 2001 e o “Dicionário Histórico das Instituições da Psicologia no Brasil” de 2011. Sobre o Dicionário Biográfico de Psicologia no Brasil é importante ressaltar que a primeira edição foi publicada em 2001, através de parceria entre o Conselho Federal de Psicologia e a Editora Imago. A segunda edição, revista e aumentada, está disponível na Seção Memória da Psicologia Brasileira no site da BVS-Psi e pode ser acessada aqui. No entanto, uma tarefa urgente seria postar em nossos sites dedicados a historiografia da psicologia no Brasil a listagem completa dessas publicações. Quanto à originalidade dos trabalhos, admiro muito os estudos de Massimi e seu grupo sobre as ideias psicológicas no Brasil Colonial. Ao contrário, não tenho entusiasmo por interpretações marxistas da história da psicologia.

Como o senhor vê a situação atual do trabalho historiográfico no âmbito da psicologia brasileira?

Impressiona-me o interesse de jovens estudantes de graduação, como também o número de pós-graduandos investindo profissionalmente na pesquisa em história da psicologia. Temos hoje pós-graduações com linhas de pesquisa no tema atraindo muitos jovens, departamentos de psicologia realizando concursos na área, e jovens professores formados para tal fim assumindo disciplinas de história da psicologia. Diante da diversidade e segmentação do grande campo da psicologia, a história aparece como a grande força unificadora ao acompanhar e analisar a origem, desenvolvimento e implicações das muitas correntes teóricas e metodológicas.

Qual sua opinião sobre intercâmbios existentes na produção historiográfica em psicologia em contexto iberoamericano e mundial? Qual o papel atual da pesquisa em história da psicologia e quais os caminhos mais promissores para o trabalho em historiografia da psicologia?

O espaço está crescendo. Hoje acompanhamos eventos internacionais em história da psicologia, publicamos em revistas especializadas sobre o tema e estamos visitando universidades para realização de estágios e intercâmbio. O campo está aberto e o interesse é grande. Já temos pesquisadores deixando as questões locais e se dedicando a temas históricos da psicologia de relevância internacional.

Quais as perspectivas futuras para o Grupo de Trabalho em História da Psicologia da ANPEPP?

Vejo duas situações quanto aos trabalhos do GT que requerem análise. A primeira é que estamos atraindo muitos colegas o que mostra que realmente o estudo da história está fazendo parte dos currículos de graduação e das pesquisas da pós-graduação. Uma decorrência é o crescimento do número de participantes, com sérios desafios ao formato dos GTs ANPEPP. A segunda é que não estamos conseguindo manter os pesquisadores que passam pelo GT. A rotatividade é grande e se deve, na minha interpretação, ao refinamento de interesse levando o pesquisador a um grupo mais específico, desde que o nosso é genérico. Basta ver a lista de trabalhos deste XIV Simpósio. Por outro lado, as atividades do GT são complementadas ricamente por eventos dedicados a história da psicologia, como os Encontros Helena Antipoff em Minas, Clio-Psyqué no Rio, e os tradicionais encontros na PUCSP.

Como o senhor percebe as perspectivas de trabalho no âmbito da RIPeHP?

A resposta a essa pergunta está na Coleção Encontros Anuais Helena Antipoff no visionário trabalho sobre o “Patrimônio Cultural, Museus, Psicologia e Educação” organizado pelas colegas do GT Érika Lourenço, Maria do Carmo Guedes, Regina Campos e publicado em 2009 pela Editora PUC Minas. Coube a mim e a meu aluno de Iniciação Científica Luciano F. Piccoli mostrar a importância e pertinência dos sites para o acervo artístico, científico e cultural. Na oportunidade contamos sobre nossa experiência com o MuseuPsi. Neste sentido, a pesquisa que ora realizo com a colaboração do psicólogo Marlos Mello sobre uma “análise em psicologia política” publicada em 1908 por Victor de Britto em Porto Alegre, foi enormemente facilitado pelo material disponível em sites, desde os discursos que Britto pronunciou na Câmara dos Deputados, na antiga capital brasileira em 1914.  Em entrevista recente, na Folha de São Paulo de terça-feira 29 de maio de 2012 (E4), o historiador Robert Darnton (1939-), diretor da Biblioteca de Harvard, maior rede de bibliotecas universitárias do planeta, disse que recebeu a missão de criar a Biblioteca Pública Digital da América. Na oportunidade, ele mencionou que o debate sobre o acesso aberto foi prejudicado pelos interesses comerciais de Hollywood, preocupada com filmes e música, e não com a herança cultural. Há ainda restrições legais a serem vencidas, mas a comunicação por sites e blogs é o caminho do futuro e neste sentido o RIPeHP está de parabéns pelo grande trabalho que vem realizando na divulgação sobre história da psicologia.

4 comentários sobre “Entrevista com William Barbosa Gomes (UFRGS)

  1. Robson Cruz

    Olá pessoal,

    Parabéns pela entrevista. Clara e bastante informativa para quem está se iniciando no campo e no GT agora, como é o meu caso.
    Robson Cruz

  2. Dr. Dolite

    Imperdíveis eram as aulas do professor em questão…. rabiscos que cruzavam o quadro negro a fim de demonstrar relações inimagináveis entre teóricos psi e épocas. O problema era os alunos entenderem alguma coisa, hehe. Parabéns ao professor.

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